domingo, agosto 20, 2006

.conto (o sapo do futuro)


. o sapo do futuro
de Gustavo Resende

A menina acabou de acordar. Ela não é mais menina. Nem é mulher. É moça. Uma adorável moça. Tem seus quinze anos.
O primeiro toque do pé no chão frio do quarto a fez acordar para a realidade. Ela tinha sonhado que estava em um magnífico conto de fadas. Uma dessas histórias melosas que contam para crianças.
Ela adorava (e adora) conto de fadas, prefere o da Cinderela. Mas sente-se angustiada quando a carruagem vira abóboras. Os cavalos, ratos. A linda mulher se transforma em uma ordinária qualquer...
O sonho que teve foi mais ou menos assim. Ela passeava alegre e saltitante pelo bosque. Ali perto tinha um lago, um lago puro, transparente e belo. Ela podia se ver pelo reflexo. Via que refletia ali uma garota bela, mas triste. Infeliz, digamos. Uma menina que sonhava triste por não encontrar o grande amor. Lembrara dos dizeres de uma fada:
"Dar-te-ei o amor em troca de tua felicidade, aceita?"
Ela tinha dito não.
Hoje sabia que não podia ser feliz sem o amor. Nem poderia amar sem ser feliz.
Mais uma vez ela olhou para o seu reflexo e dali saiu um sapo. Um sapo robótico, cibernético... Um sapo do futuro. Ele tinha engrenagens pelo corpo. Seus movimentos eram programados. Seus sons eram simplórios, mas complexos. O sapo coachava sem parar, mas ela não entendia nada.
O sapo veio de um futuro. Um futuro tão futuro que nem ela que não pertencia àquele mundo poderia reconhecer. Ela beijou o sapo. Beijou seus parafusos.
- Serás meu príncipe.
O sapo pulou na água, desmontou-se e ela só via fios e metais indo para o fundo. Até que não viu mais seu príncipe e viu seu reflexo de infelicidade.
Andou até o castelo e lá encontrou um príncipe. Eles casaram e foram infelizes para sempre. Eles se amavam!

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial